Intervalos no espaço

Antes e depois do intervalo

Nas cidades, como na arte, há espaços que são interstícios. Os espaços fotografados por Joubert Vidor são dessa ordem: lugares por onde os dejetos escoam e flui o esgoto, o lixo, tudo o que jogamos fora, lugares que não queremos ver, mas que estão lá (e crescem dia após dia). Através da aproximação feita pelo recorte fotográfico, estetizante, esses lugares tornam-se agradáveis ao olhar e, desatentamente, poderiam ser confundidos com uma simples fotografia abstrata ou até mesmo como parte de uma paisagem bucólica e saudável.

Indo por uma via aparentemente distinta, o trabalho de Cristiane Schmidt se utiliza de elementos oriundos da publicidade, do design gráfico, da fotografia de moda. Os cartazes que apresenta nesta exposição utilizam uma linguagem própria desses meios, mas não são um produto dos mesmos. A artista subverte a lógica dessas linguagens – que são exteriores à própria arte – e utiliza também outras práticas artísticas, como a performance fotográfica. Juntando todos estes elementos, é formulado um pensamento crítico frente à maneira como nos relacionamos com os produtos e os utilizamos, o que vemos, como pensamos e, da mesma maneira, frente à própria arte (assim como o design e a eficácia de um produto, a arte não é também “aprovada por grandes profissionais”?) E essa crítica não se dirige a um único ponto, pois nos relacionamos, no dia-a-dia, com as questões que o trabalho nos apresenta (assim como passamos pelos lugares fotografados por Joubert Vidor).

Postos lado a lado, como proposta de exposição, os trabalhos dos dois artistas nos lembram que nosso cotidiano está rodeado tanto de coisas úteis/agradáveis quanto inúteis/desagradáveis. Como já preconizado no final dos anos 1980 por Vilém Flusser, “Estamos começando a nos tornar cada vez mais conscientes do caráter efêmero de todas as formas (e, consequentemente, de toda criação). Pois os dejetos começaram a obstruir nosso caminho tanto quanto os utilitários.” É pensando parte do mundo que nos cerca (como os cartazes de publicidade, os objetos que compramos e utilizamos, os espaços poluídos pelos quais passamos no dia-a-dia e que abrigam nossos dejetos) que Cristiane Schmidt e Joubert Vidor dão lugar ao intervalo (um lugar entre dois pontos, que está para ser preenchido), dão a possibilidade de pausa a quem se dispuser ainda a pensar que o mundo em que vivemos pode ser reduzido a duas esferas muito simples: o que produzimos e o que realmente sobra disso. E aí não se pode deixar de pensar na arte que estamos produzindo hoje: o que fica?

Eduardo Xavier
Graduando em História, Teoria e Crítica da Arte pelo IA-UFRGS.
Outubro de 2008.

Exposição INTERVALOS | 02/10/2008 | Sala C2 Paço Municipal

Intervalos

Cristiane Schmidt e Joubert Vidor apresentam em Porto Alegre, na sala C2 do Paço Municipal, a exposição “Intervalos”, que tem como proposta explorar as re-significações da imagem, questionando seus múltiplos usos na contemporaneidade.

Cristiane Schmidt estabelece um diálogo entre o campo da arte e da publicidade, em uma série de pôsteres que investigam a relação entre o corpo humano e objetos do cotidiano, utilizando-se de frases e layouts de propagandas. Joubert Vidor busca uma provocação estética, explorando limites entre o agradável e o desagradável a partir do diálogo entre fotografia e vídeo, jogando com imagens da cidade e das ações do homem nesse cenário urbano. Nos intervalos entre esses trabalhos é que se poderá perceber o questionamento da imagem que os artistas realizam, assim como estabelecer novos olhares para situações e lugares pelos quais passamos no cotidiano – como os cartazes de publicidade, o design, os espaços da cidade.

CRISTIANE SCHMIDT

Vive e trabalha em Porto Alegre. Cursa bacharelado em Fotografia na UFRGS. Trabalha com fotografia desde 2005, articulando questões relacionadas ao corpo e ao olhar do espectador à idéia de simulacro e de apropriação de imagens e conceitos do senso comum. Seus trabalhos podem ser vistos em http://cristianeschmidt.wordpress.com.

JOUBERT VIDOR

Vive e trabalha em Porto Alegre. Cursa Artes Visuais na UFRGS. Desenvolve seus trabalhos em fotografia, vídeo e tecnologias digitais, pesquisando aspectos de tensões entre os espaços físicos e virtuais, entre ficção e informação nas imagens e simulações computacionais, realizando-os através de instalações e da web. http://www.joubertvidor.com.

joubert vidor

sem título

Série de 20 imagens 20×30 em backlight + vídeo
Colaboração: Cristiane Silveira, Maria Ivone dos Santos, Vanessa Toniazzo.

http://www.joubertvidor.com

Situação de Permeio | Cristiane Schmidt

Situação de Permeio | 2007 | Série de 8 pôsteres de 90X60cm | Impressão sobre papel sulfite.

Colaboração: Jorge Soledar, Vivian Fensterseifer e Gabriel Karasek.